AUDIÊNCIA EM CRECIMENTO

NATIVOS DIGITAIS ATINGEM MILHÕES DE PESSOAS

Os empreendedores de mídia digital neste estudo são impressionantemente otimistas com relação ao crescimento de suas audiências, e eles realmente deveriam ser. Há informação su ciente para sugerir que até os menores podem crescer de forma significativa nos próximos anos, mas somente se eles dedicarem recursos a estratégias de ampliação de alcance e marketing.

O tamanho da audienência varia dramaticamente entre os nativos digitais na América Latina

Muitos dos empreendedores de mídia digital neste estudo parecem estar negligenciando a necessidade básica de qualquer negócio: atrair e manter o maior número de “clientes” possível.

Mais de 30% atraem menos de dez mil sessões por mês, e isso não é só porque eles estão apenas começando, ou porque não é possível atrair uma audiência maior. No nível mais alto, os maiores sites têm mais de 20 milhões de sessões por mês.

Seus “clientes” variam de leitores, ouvintes de podcast a assinantes do YouTube. A maioria têm seguidores e fãs nas redes sociais (alguns têm muitos fãs). Alguns poucos só publicam nas redes sociais e atraem mais de sete milhões de seguidores.

Idade não é o fator principal quando se trata de agregar audiência. Poucos empreendimentos que têm mais de cinco anos de existência parecem ter estagnado, e alguns dos mais novos estão apenas começando.

No nível intermediário de receita, o tráfego varia de menos de cinco mil sessões por mês para mais de um milhão, indicando que até aqueles que estão crescendo talvez estejam destinados a estagnar se eles não mudarem seu caminho.

Os sites menores têm muito o que aprender com seus colegas no nível superior do espectro. A solução parece residir em encontrar a combinação correta entre conteúdo, ampliação de alcance nas mídias sociais, acessibilidade em dispositivos móveis e análise de dados.

 

Grande massa de seguidores nas mídias sociais amplia o alcance dos meios nativos digitais

Os meios digitais neste estudo usam intensivamente as redes sociais para distribuir seu conteúdo, e muitos deles têm um número considerável de seguidores.

Todos exceto um deles usam o Twitter e o Facebook, 70% usam o YouTube e 62% usam o Instagram.

LinkedIn, SnapChat, WhatsApp são utilizados por menos de 12%. É digno de nota que o uso do aplicativo Telegram parece estar crescendo, possivelmente porque ele oferece um nível mais alto de criptogra a para repórteres investigativos preocupados com segurança.

Os principais sites têm milhões de seguidores e os utilizam habilmente para espalhar notícias e informação, fazer enquetes com os leitores e consolidar a lealdade de seus seguidores. Mas, novamente, o espectro varia de forma gritante.

Apesar da média de curtidas no Facebook informada pelos sites entrevistados no estudo ser de 456 mil, a mediana é 16.800.

O número médio de seguidores no Twitter foi de 174 mil para todos os meios digitais, enquanto a mediana foi de dez mil. Novamente, os números foram in ados para mais por algumas poucas publicações que desenvolveram estratégias altamente bem-sucedidas no Twitter e podem se gabar de ter mais de sete milhões de seguidores.

Outro dado na pesquisa ajuda a explicar a disparidade entre a média e o ponto intermediário para cada meio digital. Apenas 28% dos sites mencionaram especificamente que eles têm um ou mais funcionários designados como um editor de redes sociais ou responsável por interagir com sua audiência. Estes sites tendem a ter as maiores audiências nas redes sociais.

O sucesso daqueles com uma equipe de mídias sociais sugere fortemente que contratar funcionários para ajudar a impulsionar a aquisição de audiência tem um impacto significativo.

Alguns exemplos de sites com muitos seguidores nas redes sociais

(Brasil) Quebrando o Tabu publica notícias exclusivamente no Facebook e atraiu mais de sete milhões de curtidas.

(México) Aristegui Noticias consistentemente atinge marcas melhores que a mídia tradicional quando o assunto é o engajamento entre os seus quase 15 milhões de seguidores no Twitter no Facebook.

(Brasil) Papo de Homem usou as mídias sociais para coletar 20 mil respostas para uma pesquisa sobre gênero, resultando em artigos sobre disparidade de renda, violência doméstica e padrões de voto.

(México) Animal Político foi lançado em 2009 como uma conta no Twitter com o nome @pajaropolitico. Um ano depois, eles mudaram o nome para Animal Político e lançaram um site voltado para os millennials. A evolução de Animal Político de uma mera brincadeira nas redes sociais para a administração de seu próprio site de notícias deveria servir de modelo para outros em- preendimentos que existem unicamente nas redes sociais.

Mídias sociais podem trazer novas oportunidades de receita

El MemeInspiradas pelo lucrativo modelo de negócios do YouTube, que incentiva produtores de conteúdo ao compartilhar receita publicitária, outras plataformas de redes sociais estão começando a oferecer compensação a suas grandes estrelas. Em 2017, o Facebook começou a pagar alguns produtores de conteúdo para criar vídeo, além de compartilhar receita publicitária com parceiros. Se essa tendência continuar, poderá se provar como uma grande fonte de receita para os nativos digitais que podem atrair grandes audiências nas redes sociais.

Alguns poucos sites neste estudo já estão impulsionando sua presença social para atrair receita na forma de contratos de in uenciadores patrocinados e conteúdo patrocinado.

Por exemplo, na Argentina, El Meme diversificou sua receita ao atuar como uma agência de mídia. A equipe cria conteúdo patrocinado para clientes e compartilhao em seu site e nas mídias sociais. Eles inclusive encontraram um jeito de expandir sua audiência ao desenvolver contratos com outros in uenciadores que também compartilham o conteúdo patrocinado de seus clientes.

Uma das maneiras pelas quais El Meme desenvolveu uma rede tão vasta de influenciadores foi criando uma seção especial em seu site, dedicada a recrutar e treinar criadores de conteúdo para o seu próprio site. Os visitantes desta seção precisam fazer o login com seus perfis nas mídias sociais, uma tática que ajudou El Meme a identificar influenciadores, ampliar sua oferta de conteúdo e, em última análise, expandir seus negócios.

A internet móvel está estimulando o crescimiento da audiência, criando um “próspero ambiente de startups”

A crescente adoção da tecnologia móvel permitiu que pequenas organizações de mídia lideradas por jornalistas coletassem e compartilhassem notícias de formas inovadoras e que estão conquistando audiência e in uência. Dois terços dos sites analisados no nosso estudo afirmaram que mais da metade de seu tráfego vem de dispositivos móveis e que a tecnologia móvel tem sido um fator chave para aumentar a audiência.

Diante da estimativa de que haverá 150 milhões de novos usuários de internet móvel até 2020, 50% a mais que em 2015, o ecossistema móvel da América Latina e do Caribe está criando novas oportunidades para crescimento e inovação, e um próspero ambiente de startups.

O crescimento do número de smartphones também é impressionante, aumentando de menos de 10% em 2012 para mais de 50% até julho de 2016. Melhorias nos serviços de internet móvel também estão ajudando as audiências com conexões limitadas a conseguirem acesso mais consistente e de alta velocidade.

Analistas projetam que até 2020 mais de 450 milhões de latino-americanos terão um smartphone, fazendo deste um mercado maior que o dos Estados Unidos. (Fonte das estatísticas desta seção: The Mobile Economy Latin America and the Caribbean 2016, GSMA.)

Ser mobile-friendly é fundamental: não para os aplicativos – sim para os podcasts

Com o crescimento da internet móvel oferecendo a melhor oportunidade para ampliação da audiência, é fundamental ter uma forte estratégia móvel.

Aristegui Noticias mobile appDesign responsivo parece ser, de longe, o melhor jeito de atingir a audiência ao invés de aplicativos móveis, mas três dos empreendimentos que nós estudamos demonstraram ser promissores com seus apps—Linguoo com 50 mil downloads, Aristegui Noticias com 100 mil e Taringa com 156 mil.

No geral, apenas 11 das publicações entrevistadas criaram um aplicativo móvel, e muitas delas reportaram problemas. A resposta do público ao consumo de notícias via aplicativos tem sido fraca. Seis desses 11 veículos disseram ter tido menos de 100 downloads de seus aplicativos.

Um editor chegou a criar aplicativos para a AppStore e o Google Play, mas os abandonou dizendo que “o único benefício eram as notificações, mas não justificava a manutenção”. Outro editor disse que o tráfego era muito baixo. Um terceiro disse que o aplicativo “praticamente não valia nada”.

Por outro lado, os podcasts, apesar de ainda serem um segmento pequeno, se mostram promissores. Há evidências para sugerir que o mercado de podcasts na América Latina está pronto para crescer rapidamente nos próxi- mos anos, assim como aconteceu nos Estados Unidos e em outros países.

Radio Ambulante podcastEmbora não incluída neste estudo, um dos principais podcasts em espanhol, Radio Ambulante, oferece um modelo regional para outros. Além de atrair uma vas- ta audiência latino-americana, eles têm uma crescente audiência nos Estados Unidos graças, em parte, a uma parceria com a National Public Radio, emissora de rádio pública norte-americana.

Várias condições de mercado sugerem que a audiência para podcasts na América Latina possivelmente crescerá nos próximos anos. Uma vez que podcasts podem ser baixados quando o usuário tem um bom acesso à internet e reproduzidos quando o usuário deseja, esse tipo de conteúdo é especialmente valioso quando o acesso à internet é irregular.

De modo similar, a piora no trânsito da região signi ca que os consumidores gastam um tem- po signi cativo dirigindo ou se deslocando de transporte público, um fator chave para o crescimento dos podcasts em outros países.

Compreender o Google Analytics é fundamental

Se, por um lado, descobrimos que 91 dos 100 nativos digitais que estudamos utilizam o Google Analytics, por outro lado, quando questionados a especificar o número de usuários mensais e o total de visitas mensais, mais de uma dúzia optaram por não responder à pergunta.

De forma semelhante, dois terços dos entrevistados pularam questões sobre o número de visitas que duraram mais de 10-15 segundos (uma medida de engajamento), bem como o número de usuários que visitaram os sites pelo menos 10-15 vezes ao mês (uma medida de lealdade).

Pelo fato de existir uma forte correlação entre tamanho da audiência e renda, e compreender a análise de dados é fundamental para gerar tráfego, esta é uma clara área de oportunidade.

Na indústria global de publicação, produtores de conteúdo que conhecem e entendem suas audiências são mais capazes de avaliar o tipo de conteúdo que seus leitores querem, como também são capazes de identicar lacunas em sua cobertura que podem atrair novas audiências.

Sites hiperlocais informam comunidades desprivilegiadas

Organizações de notícias hiperlocais fornecem informação que não está disponível em nenhum outro lugar, o que torna sua contribuição para o ecossistema de mídia especialmente valiosa. Por elas estarem tão sicamente próximas de sua audiência, elas frequentemente encontram pautas que passam despercebidas por outras, e eles são a primeira linha de defesa contra déspotas locais.

Muitas comunidades na América Latina nunca tiveram um jornal local, e poucas se bene ciaram de uma cobertura jornalística de qualidade, fazendo desses jornalistas pionei- ros algumas das mais importantes forças na região.

Mas eles também são os mais vulneráveis. Sites hiperlocais estão atraindo uma preciosa porém pequena receita publicitária, e sua precária condição nanceira os torna mais suscetíveis a ataques por forças políticas e comerciais. Quando cobre corrupção e práticas de negócio desleais, a mídia local frequentemente enfrenta retaliações, perda de receita publicitária ou coisa pior. Consequentemente, muitos se esforçam para oferecer a tão necessária cobertura local com pouca ou até nenhuma renda.

Apesar de ser especialmente desa ador desenvolver um modelo de negócios sólido para sites de notícias hiperlocais, eles não necessariamente precisam de uma receita alta para se tornarem sustentáveis, porque eles podem operar com um time pequeno e normalmente se bene ciam do apoio da comunidade e da contribuição de colaboradores.

Amazonia Real“Nosso jornalismo é produzido com sensibilidade por pro ssionais em busca de grandes histórias sobre a Amazônia e suas populações, especialmente aqueles que têm pequena visibilidade na chamada mídia tradicional.
Nossa missão é produzir jornalismo ético e investigativo, baseado nos problemas da Amazônia e do seu povo. Nosso posicionamento editorial é baseado na defesa da democratização da informação, liberdade de expressão e direitos humanos. ”

—Trecho dos princípios editoriais do site

Amazônia Real

Share This