IMPACTO

PUBLICANDO HISTÓRIAS QUE FAZEM A DIFERENÇA

Desde que surgiram em cena, há quase 20 anos, os empreendedores de mídia digital na América Latina têm desempenhado um papel cada vez mais importante em suas comunidades. Eles não estão apenas produzindo notícias – são geradores de mudanças, promovem melhores leis, defendem os direitos humanos, expõem a corrupção e lutam contra abusos de poder. Eles são levados a produzir notícias independentes em países que estão politicamente muito polarizados – e alguns desses empreendedores estão pagando um preço alto por isso.

Os meios nativos digitais inspiram a ação

Por toda a América Latina, os meios nativos digitais estão publicando importantes histórias, conectando-se com suas audiências através das mídias sociais e estimulando ações dos cidadãos.

Muitos dos meios digitais que fazem parte deste estudo têm produzido histórias que vêm obtendo repercussão significativa no mundo real, protegendo espécies ameaçadas de extinção, levando universidades a desenvolver novas políticas ou forçando a renúncia de funcionários públicos corruptos.

Jornalistas empreendedores estão publicando histórias que outros meios de comunicação social em seus países muitas vezes não podem (ou não iriam) cobrir por causa de controle do governo, de ameaças ou pela influência de interesses financeiros. Quando eles divulgam essas histórias, no entanto, veículos nacionais e internacionais se apropriam desses conteúdos e os compartilham com uma audiência ainda mais ampla (Algumas dessas histórias estão incluídas mais adiante nesta seção).

Histórias coletadas por veículos nacionais e internacionais

A republicação na imprensa internacional é mais valiosa do que apenas o aumento da credibilidade. Há precedentes na América Latina que sugerem que a pressão da comunidade internacional levou (ou constrangeu) os governos a agirem. A atenção da mídia internacional também ajuda os meios nativos digitais a criar credibilidade, fortalece sua posição entre parceiros e colegas e valida seu trabalho e a qualidade de suas reportagens.

Dos sites pesquisados, 72% disseram que seu trabalho jornalístico original influenciou a cobertura de veículos de comunicação nacionais em seus países. Mais de dois terços podem rastrear suas histórias e reportagens investigativas para mostrar que foram coletadas por publicações internacionais, principalmente The New York Times, BBC, Al Jazeera, Univision e The Guardian.

Em muitos casos, os meios nativos digitais alegam que as organizações de mídia maiores simplesmente se apropriam e republicam suas imagens, vídeos e outras informações sem lhes dar crédito.

No entanto, encontramos alguns casos em que os empreendedores de notícias digitais desenvolveram relacionamentos e enviam regularmente histórias para  veículos nacionais, conquistando leitores ou gerando receita com esses relacionamentos.

Com os cortes de pessoal na mídia tradicional, os meios digitais podem encontrar uma oportunidade crescente de vender seus conteúdos através de acordos de distribuição. Eles também podem aproveitar backlinks para seus sites para obter mais tráfego e atrair público de todo o mundo.

“Queremos que o debate público seja baseado em dados e fatos, não em preferências ideológicas, preconceitos, interesses partidários ou pela mera negligência ou superficialidade. Com os dados e a verificação que compartilhamos, contribuímos para melhorar o nível de conhecimento e compreensão dos eventos públicos e aumentar a transparência e a profundidade do debate.

Da declaração de missão do
Chequeado, Argentina

Histórias com Impacto

Universidades elaboram novas políticas após revelação de assédio sexual

(México) Distintas Latitudes: Em 2016, Distintas Latitudes realizou duas investigações sobre assédio sexual nas universidades. O primeiro revelou que apenas quatro das 32 universidades mexicanas estudadas tinham um protocolo para lidar com as queixas dos alunos sobre assédio sexual.

O segundo expandiu a investigação para 63 universidades de 11 países da América Latina.

Suas histórias sobre como as universidades estavam tratando as queixas de assédio sexual foram republicadas na mídia local, bem como em Univision, PorCausa e Animal Político.

Como resultado, o PAN, um dos principais partidos políticos do México, pediu às universidades que tomassem medidas. Em agosto, a UNAM, a maior universidade do país, tornou público seu protocolo para lidar com casos de assédio sexual e violência.

A Universidade Iberoamericana no México, que havia sido muito criticada pelo manejo desses casos, também publicou seu protocolo.

Vice News deu segmento ao relatório Distintas Latitudes expandindo o foco para incluir outros países da região. Seu artigo sobre o assédio sexual em universidades colombianas fez com que a Universidade Javeriana na Colômbia também desenvolvesse seu próprio protocolo.

Plano presidencial naufragou após divulgação de problema em voto eletrônico

(Argentina) El Gato y la Caja: a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner retuitou um artigo publicado por El Gato y la Caja na Argentina sobre a possibilidade de que a votação eletrônica poderia ser manipulada.

O artigo (em espanhol) e o alvoroço público resultante podem ter contribuído para conter o empenho do presidente Mauricio Macri para implementar o sistema. O artigo e a resposta de Kirchner foram destacados nos principais meios de comunicação, como Infobae e Diario Registrado.

As vítimas de desastre foram compensadas após revelação de acordo secreto

(Brasil) Agência Pública: depois do rompimento de uma barragem de contenção de resíduos em Mariana, no Brasil, e da liberação de resíduos tóxicos de operações de mineração de ferro, o governo federal e as empresas de mineração chegaram a um acordo secreto que definia quais as vítimas seriam compensadas e com que valor.

Quando a Agência Pública expôs a história e denunciou que as vítimas seriam excluídas de qualquer discussão sobre compensação financeira, a Presidente Dilma Rousseff interveio e pediu que os representantes das vítimas fizessem parte do conselho responsável por essas decisões. (Leia a história original em português).

Juiz cotado para o Supremo Tribunal Federal é descartado depois que suas atitudes sexistas foram reveladas

(Brasil) Justificando: Depois que Justificando expôs os comentários antifeministas e homofóbicos feitos por um juiz que era cotado para o Supremo Tribunal Federal, o Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM) o denunciou e o presidente brasileiro acabou indicando outro candidato. A cobertura efetivamente enterrou a candidatura.

Entre outras coisas, Ives Gandra Filho, o juiz em questão, se opôs ao casamento entre divorciados, homossexuais e disse que as mulheres deveriam se submeter aos seus maridos.

Plano presidencial naufragou após divulgação de problema em voto eletrônico

(Argentina) El Gato y la Caja: a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner retuitou um artigo publicado por El Gato y la Caja na Argentina sobre a possibilidade de que a votação eletrônica poderia ser manipulada.

O artigo (em espanhol) e o alvoroço público resultante podem ter contribuído para conter o empenho do presidente Mauricio Macri para implementar o sistema. O artigo e a resposta de Kirchner foram destacados nos principais meios de comunicação, como Infobae e Diario Registrado.

Investigação sobre fraudes leva à prisão de governador

(Mexico) Animal Político: O ex-governador do estado de Veracruz,noMéxico,fugiu depois de ser investigado por corrupção como resultado de uma denúnciad do site Animal Político.

Sua história, Os falsos negócios de Veracruz (em espanhol), foi reproduzida na imprensa internacional, inclusive pela AP e The Guardian. A cobertura provocou uma investigação do governo mexicano, que encontrou milhões de dólares e mais de uma centena de contas bancárias ligadas ao ex-governador JavierDuarte, que nalmente foi preso na Guatemala.

As vítimas de desastre foram compensadas após revelação de acordo secreto

(Brasil) Agência Pública: depois do rompimento de uma barragem de contenção de resíduos em Mariana, no Brasil, e da liberação de resíduos tóxicos de operações de mineração de ferro, o governo federal e as empresas de mineração chegaram a um acordo secreto que definia quais as vítimas seriam compensadas e com que valor.

Quando a Agência Pública expôs a história e denunciou que as vítimas seriam excluídas de qualquer discussão sobre compensação financeira, a Presidente Dilma Rousseff interveio e pediu que os representantes das vítimas fizessem parte do conselho responsável por essas decisões. (Leia a história original em português).

Site de notícias mexicano estimula a audiência a protestar por reformas na internet

(México) Sopitas: Em 2014, quando o Senado mexicano aprovou uma reforma constitucional que afetaria o controle da internet e as frequências de rádio e televisão, Sopitas, um site focado em notícias gerais, entretenimento e esportes, desempenhou um papel importante na conscientização da comunidade sobre possíveis problemas com a legislação.

Como parte de sua cobertura, eles publicaram um artigo com oito críticas sobre as reformas (espanhol) feitas por líderes comunitários. Um deles observou que o orçamento de publicidade do governo federal, de $150 milhões, foi distribuído para recompensar meios de comunicação amistosos ​​e excluir os oponentes, e outro apontou que as reformas não priorizaram o acesso universal gratuito à internet.

Sopitas, que tem uma forte presença em redes sociais, com mais de 3 milhões de seguidores no Twitter e no Facebook, exortou sua comunidade a sair às ruas em protesto e depois cobriu essas demonstrações com fotos e vídeos. A hashtag #EPNvsInternet (EPN, as três iniciais do presidente) tornou-se um trending topic.

Estudo de caso: Fact-checkers adoram a verdade

Muitas das mídias deste estudo se definem como dedicadas a apresentar informações que são baseadas em fatos, verificáveis e não associadas à política partidária. Seis delas dedicam pelo menos alguns de seus funcionários e recursos à checagem de fatos. O maior e mais bem sucedido é o premiado Chequeado, da Argentina.

Em 2013, Chequeado, uma organização apartidária e sem fins lucrativos, tornou-se a primeira organização de mídia no mundo a oferecer verificações efetivas durante um debate político. Com uma equipe de especialistas confiáveis à disposição e pilhas de pesquisas sobre a plataforma de cada candidato, a pequena equipe do Chequeado verificou todas as declarações dos candidatos em tempo real.

O fact-checking ao vivo foi um sucesso e foi replicado em seguida no The Guardian e no PolitiFact, disse a diretora executiva Laura Zommer, uma respeitada liderança na rede global de sites de checagem de fatos da Poynter.

Chequeado também publicou a história sobre a falha do presidente Macri ao não relacionar ativos de oito de seus negócios em documentos de divulgação financeira obrigatória. Essa história foi apanhada por La Nación, Clarín e muitas mídias menores.

Chequeado foi fundado em 2010 por um químico, um físico e um economista. Operado pela Fundação La Voz Pública, é considerado o primeiro site de checagem de fatos na América Latina. Chequeado compartilhou generosamente seus métodos e ferramentas de pesquisa em sessões de treinamento e seminários que ajudaram a lançar ou fortalecer as atividades de mais de uma dúzia de outros sites de checagem em toda a região.

Chequeado também usa quadrinhos, animações humorísticas criadas em aliança com o site mobile para millenials Uno e instalações de arte pública para expor e compartilhar a verdade. Por exemplo, eles colocaram duas caixas e uma cesta de bolas vermelhas na frente de um prédio público com sinais que levaram os transeuntes a escolher entre colocar uma bola na caixa que dizia: “Eu amo a verdade” ou em outra, que dizia: ” A verdade não me interessa “.

Uma captura de tela deste vídeo bem produzido está incluída abaixo.

Prêmios e reconhecimentos aumentam a credibilidade, conexões e a confiança na independência e na qualidade editorial

Quando a confiança está em jogo, os prêmios de jornalismo são um sinal ainda mais importante de credibilidade e qualidade.

O reconhecimento externo pode aumentar a credibilidade entre os leitores e as cerimônias de premiação e as listas de vencedores publicadas ajudam a construir conexões entre jornalistas e fortalecem as redes de aliados, as fundações e os investidores filantrópicos que os apoiam.

Dois terços das organizações de mídia que entrevistamos para este estudo ganharam prêmios nacionais ou internacionais de jornalismo ou de organizações humanitárias, evidências da qualidade de suas reportagens e do reconhecimento que estão recebendo.

Panama Papers ganha o Prêmio Pulitzer

Duas das publicações neste estudo, Connectas, da Colômbia, e Aristegui Noticias, do México, estiveram entre os meios que participaram da investigação do Panama Papers, vencedora do Prêmio Pulitzer

O comitê do Prêmio Pulitzer enalteceu a investigação de um ano por “usar a colaboração de mais de 300 repórteres em seis continentes para explorar a infraestrutura oculta e a escala global dos paraísos fiscais.”

O prêmio é o último de uma série de condecorações pelo esforço de reportagem em escala global conduzido pelo International Consortium of Investigative Journalists, McClatchy, Miami Herald, Süddeutsche Zeitung e outros parceiros de mídia.

(Leia o artigo completo em icij.org.)

Empreendedores digitais levam todas no Prêmio Gabriel García Márquez de Jornalismo

O ano passado marcou um ponto de virada para os meios nativos digitais. Pela primeira vez, os empreendedores do jornalismo limparam os prêmios Gabriel García Márquez – um prestigiado reconhecimento geralmente conquistado por jornalistas dos principais jornais.

Em 2016, três dos meios de comunicação estudados no relatório levaram prêmios prestigiosos durante o Festival Gabo, em Medellín, na Colômbia.

A Agência Pública ganhou com a sua reportagem investigativa “São Gabriel e seus demônios” sobre a taxa alta e fora do comum de suicídios na cidade de São Gabriel da Cachoeira, o município brasileiro com maior incidência de população indígena. Além disso, o especial “100” da Agência Pública, de 2016, que revelava o caso de 100 famílias que tiveram suas casas destruídas e foram obrigadas a mudar para abrir caminho para a construção dos Jogos Olímpicos, ganhou o Prêmio Vladimir Herzog na categoria Internet.

La Silla Vacía venceu em 2016 pela sua série de artigos sobre as negociações de paz entre o governo e as guerrilhas das FARC. Foi a segunda vez que La Silla ganhou um Gabo. O primeiro foi em 2014 para o Projeto Rosa, um estudo aprofundado de um ativista de direitos humanos torturado por paramilitares de direita.

Além disso, o Projeto Rosa de La Silla foi homenageado pelo Ministério da Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha. Também ganhou o Prêmio Nacional de Jornalismo em 2014 por uma série de histórias sobre as práticas de compra de votos de um político e recebeu o prêmio Príncipe Claus da Holanda em 2016 pelo sua contribuição à democracia.

Uma equipe da Repórter Brasil conquistou um Gabo em 2016 por sua cobertura de vídeo e fotografia, que durante quatro anos mostrou como a construção de uma fábrica afetou os moradores de uma vila de pescadores próxima.

Reconhecimento precoce fomenta credibilidade

O site argentino Chequeado foi homenageado com um prêmio Gabo pela inovação em 2015 e foi finalista em 2013. Esse reconhecimento inicial impulsionou a reputação de Chequeado e o ajudou a se tornar um líder na região, oferecendo treinamento, inspiração e outros apoios para jornalistas de outros países. Mais de meia dúzia de outros sites de verificação de dados credenciam a equipe da Chequeado por tê-los ajudado a lançar seus próprios projetos.

Aristegui Noticias premiado por reportagem

Aristegui Noticias ganhou o Gabo por sua investigação de 2015 que revelou que a esposa do presidente mexicano Enrique Peña Nieto havia comprado uma casa de US$ 7 milhões na Cidade do México. O dinheiro foi emprestado por uma empresa cujo proprietário havia recebido milhões em contratos de Peña Nieto durante seu tempo como governador do estado do México. Como resultado dessa reportagem, o governo cancelou um contrato de vários milhões de dólares com essa empresa para construir uma linha ferroviária de alta velocidade, a esposa do presidente devolveu a casa e o próprio presidente se desculpou publicamente com o povo mexicano.

A reportagem investigativa de Aristegui também rendeu à equipe uma participação na glória do Prêmio Nacional de Jornalismo em 2016 por seu papel na publicação da investigação sobre o assassinato de 16 civis desarmados pela polícia federal em Apatzingán. A escritora freelancer Laura Castellanos foi contratada para fazer a história do jornal El Universal, que se recusou a publicá-la por causa da sua natureza explosiva. Em resposta, Aristegui Noticias, Univisión e Proceso se uniram para publicar seu trabalho.

Outros vencedores de prêmios incluem

Kaja Negra, do México, ganhou o Prêmio Nacional de Jornalismo do Conselho Nacional para a Prevenção da Discriminação, além de muitos outros prêmios por informar sobre raça e gênero.

Caja Roja, da Argentina, foi nomeado foi para um prêmio da Online News Association (ONA) e m 2016. Em 2015, a Agência Pública, do Brasil, fez parte de um grupo de de 20 meios de comunicação do mundo todo, coordenados pelo ICIJ, que ganhou um prêmio ONA pela sua investi- gação sobre o Banco Mundial.

Sin Embargo do México recebeu várias vezes o Prêmio PEN de Liberdade de Expressão e o Prêmio Nacional de Jornalismo.

El Gato y la Caja da Argentina ganhou um prêmio da Unesco pela cobertura científica. Linguoo da Argentina, que ganhou os prêmios LatAm Unesco e MIT Under 35, bem como um Google-Knight Fellowship.

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