INTRODUÇAO

MEIOS NATIVOS DIGITAIS DA AMÉRICA LATINA: UM ECOSSISTEMA VIBRANTE

Os empreendedores de mídia digital estão desempenhando um papel de importância crescente na América Latina. Desde que o primeiro empreendimento neste estudo foi fundado, em 1998, centenas de meios nativos digitais surgiram na região e cresceram para atingir milhões de leitores. 

De Bogotá a Buenos Aires, de Tijuana ao Rio de Janeiro, jornalistas empreendedores estão denunciando a corrupção, aproveitando as mídias sociais para ampliar a participação dos cidadãos e criando sites investigativos que pressionam governos e grandes empresas a se tornarem mais transparentes.

Com o advento das mídias sociais e ferramentas de blogs cada vez mais fáceis de usar, estão caindo as tradicionais barreiras de entrada. À medida que a disrupção da mídia vai criando oportunidades e desafios, um número crescente de meios nativos digitais está construindo audiências e gerando receita. Eles variam de pequenos projetos, apoiados por voluntários e que atendem a públicos segmentados, a importantes organizações de notícias que alcançam dezenas de milhões de usuários através de sites, podcasts e redes sociais.

A maioria dos projetos jornalísticos apresentados neste estudo ainda é formada por pequenas empresas, mas elas não são necessariamente jovens. Quase 50% estão operando há mais de quatro anos e 12 deles foram lançados há mais de uma década.

Seus fundadores são frequentemente jornalistas já veteranos e quase todos os entrevistados se disseram motivados pelo desejo de independência editorial.

Alguns dos projetos apresentados neste estudo já são bem conhecidos das organizações de jornalismo, das fundações e dos investidores. Sites de notícias premiados, como Chequeado na Argentina, Animal Político no México, e La Silla Vacía na Colômbia, estão em operação há anos e servem de modelo a outros empreendedores do jornalismo na região.

Você também poderá encontrar neste relatório uma lista crescente de novos entrantes, alguns lançados em 2016, como Economia Femini(s)ta na Argentina e o Meio no Brasil, que estão se transformando rapidamente em fontes confiáveis de informações para suas comunidades.

Contexto latino-americano: empreendedores de mídia são levados a oferecer fontes de notícias independentes

Os meios de comunicação na América Latina estão sendo forçados a evoluir. As mesmas forças tecnológicas, financeiras e sociais que provocaram uma mudança abrupta na audiência e na difusão de conteúdo nos meios tradicionais dos EUA e da Europa agora estão atingindo emissoras de TV, rádios e jornais da região.

À medida que a mídia tradicional perde participação no mercado, surgem novas fontes de notícias e informações, desde sites de notícias gerais até influenciadores em mídias sociais e newsletters de nicho. Nessa região, as startups de mídia estão se tornando fontes de notícias cada vez mais importantes e confiáveis e estão transformando o complexo panorama de mídia de muitas maneiras.

Esses meios nativos digitais podem ter um papel ainda mais importante a desempenhar na América Latina do que os seus equivalentes nos saturados mercados de mídia do mundo desenvolvido. A propriedade dos meios de distribuição de notícias está altamente concentrada na América Latina. Na Colômbia, três conglomerados de mídia controlam 57% da audiência de notícias em rádio, internet e mídia impressa. No Brasil, a Globo é um dos 30 maiores proprietários de meios de comunicação do mundo. No México, Televisa domina a audiência televisiva e distribui conteúdo para mais de 50 países em todo o mundo. (Fonte: Rockin ‘the news in Latam)

Em toda a América Latina, os meios digitais independentes estão cobrindo comunidades desatendidas, produzindo conteúdo original e escrevendo histórias sobre assuntos que antes eram tabus. A natureza insurgente de muitas dessas organizações de notícias, lideradas por jornalistas, dá a elas uma “credibilidade de rua”, o que, a longo prazo, pode encaixar bem com o desejo da próxima geração de leitores por informações livres da influência das elites empresariais e dos governos.

“Nosso objetivo é explorar o cres- cente ecossistema de meios nativos digitais na América Latina para melhor compreender seu trabalho como jornalistas e como empreendedores.
Ficamos felizes em poder dizer que eles estão causando um impacto significativo – e apesar dos desa os que eles enfrentam, muitos deles encontraram um jeito de viver disso.”


Janine Warner
Co-foundadora e diretora executiva da SembraMedia e Knight Fellow do International Center for Journalists

A língua comum cria oportunidades regionais

O idioma compartilhado em todo o vasto mercado de mídia em língua espanhola torna mais fácil a colaboração através das fronteiras e o desenvolvimento de estratégias de negócios regionais. Por toda a América Latina, muitos dos jornalistas entrevistados estão encontrando um terreno comum e trabalhando juntos para investigar a corrupção, fazer a cobertura do tráfico de drogas e resistir à influência de interesses poderosos.

Mesmo no Brasil, onde a língua primária é o português, o intercâmbio de experiências é alimentado pelos laços culturais, sociais, religiosos e econômicos comuns que unem o Brasil ao resto da América Latina.

As notícias se espalham rapidamente na era digital e os serviços de inteligência de notícias focados no negócio e na prática do jornalismo alimentam a colaboração e compartilham as melhores práticas. Muitos dos empreendedores de jornalismo que entrevistamos relataram que se beneficiam de ler regularmente o trabalho de organizações de mídia como o Nieman Lab, o CIMA, o IJNet, o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, a Fundação Gabriel García Márquez e a SembraMedia, bem como blogs de jornalismo, incluindo News Entrepreneurs, de James Breiner, Clases de Periodismo, de Esther Vargas no Peru, Hangouts de Periodismo, de Mauricio Jaramillo na Colômbia e Miquel Pellicer na Espanha.

Como se referir a estes agentes das mídias digitais

Não há um termo claro para distinguir os veículos que nasceram online dos sites criados por jornais, revistas ou estações de rádio e TV. Ao longo deste relatório, nós usamos algumas poucas expressões de modo intercambiável para fazer referência a estes projetos jornalísticos e seus fundadores, incluindo: nativos digitais, projetos de mídia digital, empreendedores de mídia digital e jornalistas empreendedores.

Para sermos breves e para dar variedade, também usamos termos mais genéricos: mídia digital, agentes digitais, empreendimentos, sites, organizações e projetos. Essa variedade de termos também re ete o fato de que nem todos os entrevistados deste estudo comandam sites- alguns são aplicativos móveis, outros existem apenas nas mídias sociais.

De modo semelhante, usamos o termo mídia tradicional para nos referirmos às publicações impressas e estações de rádio e televisão.

 

A mídia tradicional carece de credibilidade devido aos reconhecidos laços com o governo e as elites econômicas

A mídia tradicional carece de credibilidade devido aos reconhecidos laços com o governo e as elites econômicas Latinobarómetro vem fazendo pesquisas sobre a credibilidade da imprensa em 18 países latino-americanos desde 2004. Nos últimos dez anos, dois terços dos entrevistados estavam de acordo com a afirmação de que os meios de comunicação “são freqüentemente influenciados por instituições ou pessoas poderosas”

Na mesma pesquisa, as pessoas foram perguntadas se concordavam com a afirmação de que “os meios de comunicação são suficientemente independentes”, e os resultados foram igualmente sombrios.

Apenas um quarto dos entrevistados pensava que os jornalistas eram independentes.

Os meios de comunicação na Argentina, no Brasil, na Colômbia e no México ficaram abaixo da média em credibilidade

(Fonte: Latinobarómetro, 2016)

“Desde o início, vimos o espaço onde se poderia publicar coisas que seriam difíceis de publicar na mídia tradicional dominante como nosso principal valor  . . . Não estamos lutando por furos. Estamos interessados em aprofundar, mesmo que isso signifique que saímos depois dos outros. Um de nossos lemas é: ‘Não contamos primeiro, contamos melhor'”.

— Daniela Pastrana, Diretora Geral
Pie de Página, México

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