SUMÁRIO EXECUTIVO
NATIVAS DIGITAIS CRUZENDO EM UM ECOSSISTEMA VIBRANTE
Os empreendedores de mídia digital estão desempenhando um papel de importância crescente na América Latina. Desde que o primeiro empreendimento neste estudo foi fundado, em 1998, centenas de meios nativos digitais surgiram na região e cresceram para atingir milhões de leitores.
Este estudo é a primeira investigação abrangente sobre o impacto que estes empreendedores estão gerando, os riscos que eles enfrentam e a possível emergência de um modelo de negócios viável para o jornalismo digital independente e de qualidade. Para conduzir esta pesquisa, SembraMedia, com o suporte da Omidyar Network, formou uma equipe para estudar 100 startups de jornalismo digital, 25 em cada país na Argentina, no Brasil, na Colômbia e no México.
Muitos dos pesquisadores são jornalistas empreendedores e eles contribuíram com conexões pessoais e um entendimento profundo da mídia em seus países.
Esta pesquisa pretende ajudar os fundadores das startups de jornalismo a melhor entender as tendências, ameaças e melhores práticas que os afetam. Também é elaborada para ajudar investidores, fundações e organizações jornalísticas a reconhecer o valor, vulnerabilidade e impacto deste ecossistema de mídia em rápido crescimento. Apesar de não podermos compartilhar os dados particulares dessas startups, incluímos nossos principais achados neste relatório.
Jornalistas empreendedores pagam um preço alto por produzirem notícias de forma independente
A principal constatação deste estudo é que os jornalistas empreendedores estão transformando profundamente o modo como o jornalismo é exercido e consumido na América Latina.
Eles não estão apenas produzindo notícias – eles são agentes de mudança, estão promovendo a melhoria das leis, defendendo direitos humanos, expondo a corrupção e lutando contra o abuso de poder.
Eles são impelidos a produzir jornalismo independente em países altamente polarizados do ponto de vista político – e alguns deles estão pagando um alto preço por isso.
Luis Cardona, do site Pie de Página, no México, gastou meses cobrindo o desaparecimento de 15 trabalhadores de baixo escalão do tráfico de drogas e acabou sendo ele próprio sequestrado e torturado.
Cardona e o artista Rapé dramatizaram a história em uma animação publicada no YouTube. Ambos tiveram que deixar suas cidades por conta de ameaças de morte.
Quase metade dos jornalistas entrevistados para este estudo alegaram ameaças e ataques físicos em consequência de seu trabalho. Mais de 20% das organizações admitiram que evitaram cobrir certos assuntos, pessoas e instituições por conta de ameaças e intimidação.
Outros enfrentam processos na justiça, ciberataques, auditorias intermináveis, perda de receitas publicitárias e retaliações decorrentes de sua cobertura.
Os meios nativos digitais da América Latina têm um papel ainda mais importante a ser desempenhado em comparação aos seus colegas do supersaturado mercado de mídia dos países desenvolvidos.
A propriedade de empresas de mídia é altamente concentrada nos países latinos e a publicidade governamental é frequentemente usada para recompensar veículos de mídia submissos.
Nativos digitais estão construindo negócios rentáveis
Uma das revelações deste estudo é que um crescente número de meios nativos digitais na América Latina desenvolveu negócios sustentáveis – e até lucrativos – em torno do jornalismo de qualidade.
O advento das mídias sociais e de ferramentas de web design fáceis de usar tornaram possível lançar um empreendimento de mídia digital quase que inteiramente com patrimônio e esforço próprio. Mais de 70% dos empreendimentos neste estudo começaram com menos de US$ 10 mil, e mais de 10% desse total estão gerando pelo menos meio milhão de dólares em receitas anualmente.
Quando organizamos os diversos meios digitais participantes deste estudo em quatro níveis distintos, as chaves para o sucesso se tornam mais claras. No nível mais elevado, a publicidade é a principal fonte de receita, no caso de audiências que atingem mais de 20 milhões de sessões por mês. No nível intermediário, fontes variadas de receita, incluindo consultoria, treinamento e subvenções, fazem a diferença quando o assunto é sustentabilidade. No nível mais baixo, mais de 30% atraem menos de 10 mil sessões por mês.
Fontes diversificadas de receita se mostraram a chave para o sucesso em todos os níveis, e nós encontramos uma lista crescente com mais de 15 oportunidades de receita, incluindo eventos, assinaturas, financiamento coletivo e conteúdo patrocinado. Mais de 65% afirmaram que tinham pelo menos três fontes de receita.
Falando de um modo mais amplo, encontramos dois caminhos para gerar receita: crescer a audiência para atrair tráfego e publicidade ou potencializar a lealdade da sua audiência para estimular doações. Estes dois caminhos não são excludentes.
Diversificação de receitas é chave para o sucesso
Diversificação de receitas é uma chave para o sucesso, especialmente nos níveis intermediários, e nós identificamos mais de 15 tipos diferentes de fontes de receita, incluindo eventos, treinamentos, assinaturas, crowdfunding e publicidade nativa.
Mais de 65% afirmaram que estavam gerando receita através de três fontes pelo menos.
Na camada superior, onde a audiência chega a ultrapassar mais de 20 milhões de visitas por mês, a publicidade é a principal fonte de receita, mas não é a única. Nos níveis intermediários, não há um modelo de negócios dominante e fontes diversificadas de renda que combinam publicidade com fontes de financiamento oriundas dos leitores, como eventos e crowdfunding, são cruciais para a sustentabilidade.
Quando analisamos os níveis inferiores, achamos muitas oportunidades de melhoria. Apesar de sua dedicação ao jornalismo de qualidade, mais de 30% obtiveram menos de U$ 10 mil em receitas totais em 2016.
De modo geral, encontramos dois caminhos para estes negócios crescerem: construir audiência para atrair tráfego e anúncios ou aprimorar a fidelidade da audiência para estimular pequenas doações e outras 15 formas de gerar receita.
Estes dois caminhos não são excludentes.
Empreendedores focados no jornalismo não investem o suficiente em negócios
Para muitos desses jornalistas que se transformaram em empreendedores, sua maior força – o seu desejo de produzir jornalismo de qualidade – é também a sua maior fraqueza, cegando-os diante da principal questão.
A maioria não investe o suficiente em vendas e marketing, mesmo quando eles têm tráfego suficiente para atrair receita publicitária significativa.
Muitos reclamam que não têm dinheiro para contratar um profissional de vendas, mas aqueles que o fazem estão colhendo os benefícios.
Quando comparamos a mediana da receita daqueles que têm uma equipe de vendas com a receita daqueles que não têm, a diferença é dramática. Aqueles com ao menos um profissional de vendas reportaram mais de US$ 117 mil em receitas anuais; aqueles com nenhum profissional de vendas declararam menos de US$ 3.900.
Número recorde de mulheres rompendo a barreira de gênero
Dos 100 empreendedores digitais estudados, 62% têm ao menos uma mulher dentre os seus fundadores. As mulheres também desempenham um papel significativo nas equipes executivas e de gestão.
No contexto da América Latina, onde a mídia tradicional é dominada por homens, esta constatação é ainda mais significativa.
Inovação movida pela audiência
Do treinamento de jornalistas cidadãos ao crowd-voicing, os empreendedores de mídia digital estão ampliando a maneira como produzimos e consumimos notícias. Muitas das ideias inovadoras desse estudo foram alimentadas pela proximidade desses jornalistas com as audiências que eles atendem.
Mídias sociais ampliam a audiência do jornalismo
No Brasil, Papo de Homem alavancou sua relação com mais de 500 mil seguidores nas mídias sociais para coletar 20 mil respostas para uma pesquisa sobre gênero.
O resultado foi uma série de artigos sobre temas nem sempre abordados pelo jornalismo, incluindo disparidade de renda, violência doméstica e padrões de voto.
Ao criar uma relação com acadêmicos e intelectuais na Colômbia, La Silla Vacía criou uma seção especial em seu site na qual professores podem compartilhar suas pesquisas com uma audiência de mais de um milhão de visitantes.
Além disso, jornalistas de La Silla Vacía estão desenvolvendo reportagens e infográficos que tornam a pesquisa acadêmica mais acessível ao público.
Mais que isso, eles transformaram essa seção em uma nova oportunidade de receita e estão obtendo patrocínio das universidades.
Recomendações
As recomendações no fim deste trabalho foram feitas para ajudar esta vibrante comunidade de startups de mídia digital a evoluir para um ecossistema ainda mais robusto.
Insights e ideias incluem:
- Conectar os empreendedores digitais com organizações que protegem e defendem jornalistas por meio de suporte legal.
- Fomentar a sustentabilidade com subsídios, investimento e uma aceleradora focada no fortalecimento das equipes de gestão, no crescimento das audiências e na diversificação de receita.
- Fornecer formação em negócios que inclua as melhores práticas com exemplos reais de modelos de diversificação de receitas e os mais recentes modelos de publicidade.
- Construir pontes e alianças para expandir audiências e compartilhar recursos.
Você encontrará sugestões mais detalhadas na seção Recomendações.
Dois exemplos dos nativos digitais que você encontrará neste relatório
“Percebemos um grande avanço na partici- pação das mulheres na economia, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Com as taxas atuais, a persistente diferença sal- arial não vai ser superada antes de 2186!
As barreiras discriminatórias e a distribuição desigual do trabalho doméstico não remunerado entre homens e mulheres são só algumas das questões que abordamos no site.
Nós entendemos que a informação é essencial para empoderar a sociedade… na vida cotidiana, nós compartilhamos informações, histórias e estatísticas, e trocamos ideias nas redes sociais.”
— Retirado da página “Sobre” Economía Femini(s)ta Argentina
Papo de Homem começou como um grupo de e-mails sobre masculinidade.
Atualmente, tem mais de três milhões de visitas por mês e estimula discussões, debates e diálogos entre homens e mulheres sobre questões de gênero, como desigualdade salarial, papéis sociais e violência sexual.