DIVERSOS MODELOS DE NEGÓCIOS

A QUESTÃO DA SUSTENTABILIDADE

Um número crescente de empreendedores digitais na América Latina tem desenvolvido modelos de negócios sustentáveis e até lucrativos; e não custa muito para iniciálos. Mais de 70% começaram com menos de US $ 10.000, e mais de 10% deles agora estão gerando mais de meio milhão de dólares por ano em receitas.

Diversidade de modelos de negócios traz resultados

O número de veículos nativos digitais na América Latina que estão construindo negócios sustentáveis em torno do jornalismo de qualidade cresceu dramaticamente desde que os primeiros empreendimentos considerados neste estudo foram lançados em 1998.

Apesar da diversidade do tamanho do público, das receitas, da longevidade dos negócios e do tipo de conteúdo que eles produzem, os empreendedores estão otimistas em relação ao futuro e nossa pesquisa sugere que eles têm motivos para assim estar.

Comparando as receitas e despesas reportadas para 2016, quase metade dos meios nativos digitais neste estudo parecem ter alcançado uma estabilidade financeira ou demonstram ao menos um pequeno lucro. No geral, as despesas de negócios foram equivalentes às receitas na maioria dos casos, embora algumas pareçam estar queimando o capital inicial enquanto tentam construir um negócio sustentável.

Entre os 90 participantes que responderam a todas as nossas perguntas sobre as finanças, 43 apresentaram pelo menos algum lucro; 47 mostraram ao menos algumas perdas. Embora a confidencialidade nos impeça de revelar especificidades, o lucro total foi de $4 milhões e as perdas totais foram de $1,4 milhão.

No topo, a publicidade é o principal motor das receitas e grandes audiências são fundamentais para o sucesso. Nas faixas intermediárias, fontes de receita diversificadas, incluindo consultoria, treinamento e subvenções, fazem a diferença quando se trata de sustentabilidade.

Em termos gerais, encontramos dois caminhos para aumentar a receita: gerar audiência para direcionar tráfego e publicidade ou alavancar a lealdade do público para obter receitas com crowdfunding, treinamento, eventos e outras fontes. Esses caminhos não são necessariamente excludentes.


10% dos editores se recusaram a divulgar dados financeiros privados

Em todas as outras seções deste relatório, as porcentagens foram baseadas nos 100 veículos nativos da mídia digital entrevistados. Nesta seção sobre negócios, as porcentagens foram baseadas em 90 respostas porque 10 das editoras entrevistadas declinaram em compartilhar dados financeiros privados; 6 do Brasil, 3 da Colômbia e 1 do México.

Mais uma vez, descobrimos que a mediana era uma maneira melhor de representar essas descobertas, do que a média.

Capital inicial: investimentos pequenos podem gerar grandes retornos

Uma das revelações deste estudo é que o capital inicial não necessariamente determina o sucesso comercial – 71% dos empreendimentos começaram com menos de $10.000 em investimento inicial, normalmente dinheiro dos próprios fundadores.

Desse total, 9% já tinham obtido receitas de mais de $500.000 em 2016.

Se por um lado não há correlação estatística entre o investimento inicial e a receita dos empreendimentos estudados, o investimento mediano no nível mais alto foi 80% maior que nos níveis mais baixos.

Ainda assim, mesmo no nível mais alto de receita, a mediana do investimento inicial foi de apenas $38.000, e os maiores geradores de receitas já estão arrecadando milhões.

Isto sugere que um investimento modesto em uma boa ideia com a equipe certa pode resultar em negócios rentáveis para a mídia digital na América Latina.

Categorizar os nativos digitais em níveis revela como os controles de receita variam de acordo com o tráfego, conteúdo e fontes de receita

Para entender melhor os modelos de negócios emergentes entre os diversos meios nativos digitais deste estudo, nós os dividimos em quatro níveis distintos e depois analisamos as melhores fontes de receita em cada nível, com base em fontes de receita, níveis de tráfego, mix de conteúdos e tamanho de sua equipe de vendas.

A decisão de basear os níveis nas receitas totais resultou da forte correlação matemática (.73) entre tamanho e receita.

Apesar da ampla gama de organizações neste estudo, quando as dividimos em quatro categorias, surgiram características comuns.

Algumas das ideias mais interessantes foram encontradas nos níveis médios, onde investimentos relativamente menores poderiam causar maior impacto.

Em todos os quatro níveis de receita, esses editores de mídia digital estavam otimistas quanto ao seu futuro potencial. A maioria projetou crescimento de receita de pelo menos 30% em 2017. Os geradores de receita mais bem sucedidos também foram os mais otimistas. Muitos deles previam um crescimento de 50% para 70%.

Nível superior: destacados

A diversificação das receitas é generalizada e é chave para a sustentabilidade, mas para os melhores players, a publicidade ainda é rei.

A maioria dos que geraram mais receita, aqueles que obtiveram $500,000 ou mais por ano, estavam misturando entretenimento e cobertura política para atrair milhões de visitantes (a mediana foi de 3,7 milhões de sessões por mês).

Suas principais fontes de receita estavam relacionadas à publicidade e demonstravam um uso sofisticado das tecnologias de monetização do tráfego, participando de exibições programáticas e intercâmbios de anúncios nativos e fazendo uso de plataformas de otimização de receita e análise.

Quem empreende com recursos próprios é tão importante no topo dessas camadas como na parte inferior. Quatro dos que mais geraram receita nesta categoria começaram com $5,000 ou menos como investimento inicial, três começaram com mais de $70,000.

Embora houvesse uma exceção, os que mais geraram receita também estavam no mercado há mais tempo, com uma idade média de 7 anos (nove dos 10 tinham mais de 4 anos).

Segundo nível: a passo firme

Na segunda camada, onde as receitas variam de $100,000 a $499,999, surgiu um modelo de receita mais diversificado, que combina banners com consultoria, treinamento e subsídios.

Os tipos de jornalismo que estavam sendo produzidos nesta categoria variam amplamente, mas as notícias gerais e a cobertura política eram as mais comuns, com um tanto de cultura, ciência, meio ambiente e direitos humanos.

O tráfego também variava, com alguns atraindo milhões de visitantes, outros centenas de milhares e alguns menos de 10.000 por mês. Cabe mencionar que os três empreendimentos com o menor tráfego nesta categoria também foram os únicos a reportar subsídios como sua principal fonte de receita. Todos os três estavam focados em cobrir comunidades desatendidas e fazer reportagens sobre corrupção e questões ambientais.

Dois dos meios nativos digitais neste segundo nível foram lançados sem investimento, um deles informou $8 no capital inicial, o que entendemos como o custo para registro de seu domínio. Dois foram lançados com capital inicial superior a $150,000. Todos foram financiados com recursos próprios dos fundadores ou com fundos de familiares e amigos.

Terceiro nível: sobreviventes

No terceira nível, onde a receita varia entre $20,000 e $99,999, o valor recebido de publicidade diminui significativamente e a mescla mudou, dependendo ainda mais das receitas não relacionadas à publicidade, incluindo consultoria, treinamento, assinaturas, crowdfunding e eventos.

O tráfego para os sites no terceiro nível também diminuiu significativamente, com uma mediana de apenas 45 mil sessões por mês. Isso novamente apóia a conclusão de que o tráfego e as receitas estão fortemente relacionados.

Não havia foco de conteúdo claro no terceiro nível, mas havia mais jornalistas focados em direitos humanos, questões ambientais, populações indígenas, gênero e a comunidade LGBTQIA.

Doze deles começaram com um investimento inicial de menos de $10,000; Quatro começaram com mais de $100,000, sugerindo novamente que o capital inicial não é um fator determinante na construção de receitas.

Nesta categoria, as fontes de receita variam amplamente, mas há algumas coisas que se destacam. Entre as três principais fontes de receita, 11 relataram ingressos advindos de banners ou publicidade nativa, 12 relataram consultoria, nove realizam cursos, oito informaram que obtiveram financiamentos, quatro dependiam de financiamento do governo, quatro estavam ganhando dinheiro com eventos e três estavam gastando recursos de empréstimos ou investimentos.

Dos 22 empreendimentos nesta categoria, 18 relataram pelo menos três fontes diferentes de receita.

Quatro deles confiaram quase que exclusivamente em subsídios. Mais uma vez, estes três tiveram o menor tamanho de audiência e se concentraram em cobrir os direitos humanos, a corrupção e as comunidades mal-atendidas.

Uma descoberta notável neste terceiro nível de receita, bem como no quarto, baseada no tamanho médio da equipe e na estrutura, foi que esses empreendimentos não tinham ninguém focado em vendas.

Quarto nível: Startups e estagnados

Uma das maiores forças dos novos empreendedores de mídia neste estudo é que eles foram fundados por empresários dedicados a produzir jornalismo de qualidade. No entanto, o foco implacável no conteúdo muitas vezes veio à custa dos negócios, e isso foi especialmente evidente neste nível inferior.

A maioria destes eram organizações muito pequenas, com um tamanho médio de seis membros na equipe, dedicando 82% de seus gastos à produção de conteúdo.

A receita no quarto nível foi inferior a $20,000 em 2016, mas é importante notar que alguns dos meios de comunicação digitais deste nível tinham menos de um ano de idade no momento deste estudo, e alguns já apresentavam sinais de crescimento nas receitas e tráfego no início de 2017.

Alguns dos projetos nesta categoria tinham mais de uma década de idade, e com receitas reportadas de menos de $10,000, está claro que seu foco era conteúdo e não o lucro.

A idade média neste grupo era de 2 anos e a renda mediana em 2016 foi de $7,400. Os números de tráfego também foram os mais baixos nesta categoria e a maioria teve menos de 10.000 sessões por mês.

No entanto, cinco tiveram mais de 100.000 sessões por mês, o que sugere que alguns podem servir bem ao público, mas não descobriram como monetizá-lo. Todos os cinco provavelmente se beneficiarão rapidamente de um investimento modesto e de maiores esforços no desenvolvimento de negócios.

As fontes de receita estavam distribuídas em todo o mapa, com um número impressionante de anúncios de banner do Google e patrocinadores locais, combinados com crowdfunding, produtos e distribuição de conteúdo. Quatro contavam quase que exclusivamente com subsídios.

Outliers removidos

Depois de analisar estas categorias extensivamente, decidimos remover seis outliers (pontos fora da curva) da mistura porque distorciam as descobertas. Três foram removidos porque publicaram apenas em plataformas de redes sociais, o que fez com que seus números de tráfego não fossem comparáveis aos que publicam em seus próprios sites. Outros três foram removidos porque tinham uma única fonte de receita ou modelo comercial não comparável com os outros. Assim, esses quatro níveis são baseados em apenas 84 entrevistados.

Diversificar as fontes de receita apoia a sustentabilidade e a independência

Embora a publicidade seja a principal fonte de receita para esses veículos nativos digitais, surge uma crescente lista de mais de 15 oportunidades de receita, incluindo treinamento, consultoria, subsídios, eventos e crowdfunding. Mais de 65 relataram que estavam gerando receita de pelo menos três maneiras. Apenas nove dependem exclusivamente de uma fonte de receita e uma dúzia relatou apenas duas fontes de receita.

A publicidade é fundamental e está evoluindo rapidamente

Em todo o estudo existe uma correlação estatística clara (.73) entre tráfego e receitas que parece ser impulsionada pela publicidade.

Os anúncios de banner representam a fonte de receita número um nos dois principais níveis dos nativos digitais que estudamos, mas os tipos de anúncios variam enormemente dependendo do tamanho de seu público.

No nível superior, 56% da receita provém de publicidade. Os três principais geradores de receita tinham mais de 5 milhões de sessões por mês e estavam aproveitando as últimas tendências em publicidade, usando mídia programática e publicidade nativa.

Depois de revisar os principais sites geradores de receita com o serviço Ghostery, descobrimos que a maioria estava usando tags de anúncios programáticos e eles participavam de até 23 ad exchanges diferentes.

Esta descoberta é especialmente significativa, pois parece que os sites que participam de ad exchanges estão obtendo receita de seu tráfego dos Estados Unidos vendido por esses ad exchanges fora de seus países de origem. Através do estudo, esses veículos nativos digitais relataram que, enquanto eles aproveitavam a maior parte do seu tráfego de seus próprios países, a segunda fonte de tráfego mais importante eram os EUA.

De acordo com a Ghostery, os ad exchanges de mídia programática (também chamados de DSPs) detectados com mais freqüência foram: O Trade Desk, o Oracle BlueKai, o Turn Inc., o MediaMath, OpenX e o Advertising.com for Publishers da AOL.

Quando o Ghostery foi usado para detectar todas as tags relacionadas ao anúncio (não apenas programáticos), ele registrou 89 tags de anúncios no principal site gerador de receita neste estudo.

Em todo o nível superior, a mediana era de 21 tags relacionadas ao anúncio. No segundo nível, quatro tags relacionadas ao anúncio, e no terceiro, apenas duas. Isso sugere que a participação em mais ad exchanges e a aquisição de audiência direta pode somar ganhos de receita significativos.

Os dois pontos fora da curva na maior faixa de receita que não estavam participando de ad exchanges pareciam compensá-lo com subvenções e crowdfunding ou doações.

No segundo nível, 32% obtiveram receitas de publicidade nativa e banners tradicionais, mas cinco também tinham tags de anúncios programáticos.

Mesmo no nível mais baixo, os cinco sites que tiveram mais de 100.000 sessões por mês provavelmente se beneficiariam de um uso mais sofisticado da publicidade.

A publicidade nativa traz oportunidades e desafios editoriais

A publicidade nativa se destaca como uma importante fonte de receita nos quatro níveis de maturidade.

O crescimento da publicidade nativa está sendo impulsionada graças a uma série de problemas com banners – de fraude de cliques a cegueira de faixa a bloqueadores de anúncios. Esta nova forma de conteúdo patrocinado está ganhando popularidade em todo o mundo e pode fornecer uma das melhores oportunidades de crescimento de receita em pequenos e grandes sites.

No geral, 28% dos empreendimentos estudados relataram que a publicidade nativa é uma das suas três principais fontes de receita. Ao contrário de outras fontes, a publicidade nativa apareceu como uma fonte chave de receita em todos os quatro níveis. A rede de ad exchange de publicidade nativa mais popular detectada com o Ghostery foi Taboola.

No entanto, os jornalistas são compreensivelmente cautelosos sobre o conteúdo patrocinado e muitos meios nativos digitais simplesmente se recusaram a aceitar qualquer coisa que fizesse alusão à publicidade.

Depois de estudar as melhores práticas na América Latina, bem como a mídia em outras partes do mundo, nossa conclusão é que a publicidade nativa é fundamental para o sucesso financeiro, mas para preservar a integridade editorial deve ser regrada por uma política cuidadosamente formulada e bem-aplicada, que estabeleça diretrizes claras e coloque limites ao tipo de mídia publicitária que será aceita.

Uma publicação que entrevistamos que se posiciona como especialista na criação de conteúdos adaptados a marcas específicas é Enter.co da Colômbia, um site focado na “cultura digital” da tecnologia, empreendedorismo e entretenimento. Em seu kit de mídia bem projetado, eles relatam mais de 1 milhão de usuários por mês que gastam 3 milhões de minutos por mês consumindo o conteúdo do site. (Citação: kit de mídia Enter.co)

Alternativas à publicidade

Fica claro que o desenvolvimento de um modelo de receita diversificada é fundamental para construir um negócio sustentável, mantendo a independência editorial. Nesta seção, exploramos com mais detalhes algumas das alternativas à publicidade que estão emergindo como fontes de receita populares entre os meios nativos digitais.

As doações da audiência oferecem um potencial promissor de receita para empreendimentos orientados por causas

Um pequeno grupo de usuários fiéis e engajados pode produzir uma quantidade significativa de receita. E pequenas doações de muitas pessoas estão sendo uma das fontes de renda mais robustas para jornalistas que procuram a independência.

Quando as organizações de mídia passam da exigência de uma assinatura para oferecer uma adesão, elas mudam a dinâmica de uma relação econômica regrada por contrato para um convite ao apoio dos leitores. Apesar da abundância de notícias gratuitas disponíveis on-line, os leitores em todo o mundo estão pagando por conteúdo, especialmente por jornalismo investigativo e por informações exclusivas que agregam valor às suas vidas cotidianas e às comunidades.

Porque crowdfunding e doações de audiência representaram apenas 15% das principais fontes de receita relatadas, esta categoria se destaca como uma área de crescimento potencial para a maioria dos empreendimentos neste estudo. Embora ainda embrionária na América Latina, essa tendência merece atenção por causa do sucesso que vimos em outras empresas de mídia em todo o mundo.

A National Public Radio (NPR) nos Estados Unidos foi uma das primeiras a demonstrar que pequenas doações regulares fornecem uma fonte de renda mais confiável do que as campanhas que angariam fundos anualmente.

Um dos melhores exemplos de apoio de doadores no mundo de língua espanhola pode ser encontrado em ElDiario.es na Espanha. Embora não esteja incluído na nossa investigação, o sucesso deste site de notícias lançado há cinco anos merece atenção. No mercado de mídia altamente competitivo de Madri, ElDiario.es se distinguiu pela publicação de notícias diárias e na realização de uma série de reportagens investigativas sobre corrupção. E seus leitores o recompensaram generosamente pelo esforço.

Em 2016, a empresa gerou cerca de € 3,6 milhões de receita, com quase € 1,2 milhão provenientes de “parceiros”, que doam pelo menos 5 € por mês (muitos pagam mais).

Não é um modelo de assinatura, o site é gratuito, mas os doadores recebem dois benefícios: eles podem visualizar o site sem anúncios e, em vez de receber o boletim diário pela manhã, eles conseguem acessar os conteúdos na noite anterior. Também vale ressaltar que apenas um pequeno segmento de sua audiência está fazendo contribuições regulares. Dos milhões de visitantes em seu site, apenas 1% (cerca de 20.000 pessoas) são contribuintes regulares, e 80% deles renovam suas assinaturas a cada ano.

Muitos sites fazem campanhas anuais de crowdfunding para atrair o apoio dos leitores. O programa Super Amigos de La Silla Vacia atraiu $100,000 em apoio nos últimos anos, mas mesmo eles relatam que o esforço necessário pode não compensar o esforço quando tratado como um evento anual.

Em vez disso, uma receita mais consistente de doações recorrentes está se mostrando um modelo mais confiável e sustentável. Depois de executar múltiplas campanhas de crowdfunding anual, o Animal Político do México começou a pedir doações mensais e contínuas, em vez de pagamentos únicos, durante a campanha de 2017 no site de crowdfunding mexicano Fundeadora.

Oferecer treinamento traz mais do que apenas receita

O treinamento não é apenas uma boa fonte de receita a longo prazo, cria credibilidade, atrai novos públicos, aprofunda as relações e torna os leitores mais propensos a se tornar doadores. À medida que os jornalistas treinam sua audiência (e outros jornalistas), eles também estão criando um ponto de partida para o recrutamento, e os participantes freqüentemente se tornam membros da equipe.

Em todo o estudo, 19% das organizações de notícias geram receita transformando suas habilidades em treinamento, geralmente nas áreas de jornalismo ou em tecnologia.

Para um site no Brasil, o treinamento é um negócio. Brio Hunter desenvolveu uma plataforma para fornecer uma variedade de programas on-line e presenciais e oferece coaching para jornalistas. Brio Hunter demonstra que um modelo de treinamento remunerado pode funcionar na América Latina, fornecendo uma das fontes mais importantes de receita para que os jornalistas possam apoiar seus projetos.

Na Argentina, Tiempo Patagónico oferece treinamento em meteorologia e como entender as selvagens mudanças no clima, o que na ponta mais ao sul da Argentina pode significar vida ou morte.

El Meme da Argentina convidou os usuários a se juntarem à sua rede de criadores de conteúdo para o seu site de entretenimento e utilizou seu curso de treinamento on-line para desenvolver um extenso banco de dados de colaboradores. À medida que o site crescia, muitos desses contribuintes se juntaram a sua equipe de funcionários.

Os eventos aprofundam os relacionamentos, criam lealdade e receita

Ter contato direto com os usuários aprofunda a confiança e ajuda a construir relacionamentos de longo prazo. Enquanto 24% das organizações organizaram um evento, apenas 9% apresentaram eventos como uma das suas três principais fontes de receita.

Expandir as empresas de mídia para incluir eventos é uma tendência global. Nos Estados Unidos, meios de comunicação tão diversos quanto The New York Times e o MinnPost estão descobrindo que os eventos tornam-se uma fonte sólida de receita nova porque oferecem uma oportunidade para aumentar as doações e os patrocínios. Essa tendência se estende à América Latina, onde os eventos organizados pelos meios nativos digitais vão desde debates políticos até festas de Halloween.

Claramente, esta é outra área de crescimento de receita promissora, que pode ser ainda mais crucial para os meios nativos digitais que atendem a públicos de nicho. Os eventos podem ajudar até pequenos empreendimentos a aprofundar os relacionamentos que eles têm com sua audiência e criar oportunidades presenciais para a busca de doações.

Consultoria traz a tão necessária receita, especialmente para projetos menores de mídia digital

Como encontramos com eventos e treinamento, muitos jornalistas oferecem serviços de consultoria e usam essa receita para apoiar seus projetos de jornalismo.

Em todo o estudo, 28% listaram consultoria como uma das suas três principais fontes de receita, geralmente sob a forma de design de sites, gerenciamento de redes sociais ou criação de conteúdo. A consultoria foi especialmente importante nos dois níveis médios, e parece ajudar a compensar a falta de tráfego necessário para uma receita de publicidade substancial.

Em muitos casos, o site jornalístico serve como um tipo de dispositivo promocional, atraindo uma audiência de potenciais clientes.

Subsídios fornecem receita para um pequeno segmento

Apenas 14 dos meios nativos digitais estudados relataram ter recebido subsídios como uma das principais fontes de receita entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2016. No primeiro nível, apenas um deles recebeu receita de financiamento. No segundo nível, quatro subvenções foram relatadas como sua principal fonte de receita, no terceiro nível, cinco dependem principalmente de fundos de financiamento, e no quarto nível, quatro receberam subsídios. Dez desses 14 também relataram ter recebido subsídios em anos anteriores.

As fontes mais comuns de concessão e de investimento filantrópico foram a Open Society Foundation e a Ford Foundation. Outras fontes de financiamento incluem: European Union, Google, HacksLab, Hivos International, ICCO International, International Center for Journalists, Media Development Investment Fund, Omidyar Network, e Oxfam.

Principais fontes de receita

Anúncios de banner 31%

Publicidade nativa ou conteúdo de marca 28%

Serviços de consultoria 28%

Serviços de treinamento e cursos 19%

Subsídios 16%

Distribuição de conteúdo 16%

Crowdfunding e doações 15%

Google AdSense 15%

Anúncios governamentais ou financiamento 12%

Eventos 9%

Venda de produtos 8%

Mídia programática 7%

Assinaturas ou membros 5%

Patrocínio de influenciador 5%

Nota: 15% não relataram fontes de receita

A publicidade governamental distorce o mercado, mas entre esses meios nativos digitais não é uma fonte relevante de receita

A enorme quantia de dinheiro gasto pelos governos em publicidade distorce os mercados publicitários nos países que estudamos, especialmente no México e na Argentina. Os interesses empresariais e políticos que controlam o discurso público usam publicidade para recompensar a cobertura favorável e retirar o apoio quando criticados. Nesse contexto, muitos editores de mídia independentes se encontram em uma desvantagem significativa.

Alguns leitores podem se surpreender com a influência aparentemente baixa do financiamento governamental relatado neste estudo, mas isso é quase sem dúvida devido à forma como a amostra original foi selecionada: sites que dependiam exclusivamente do apoio do governo não foram incluídos nesta investigação.

Newsletters são combustível para doações

Os sites de mídia com programas de doadores bem-sucedidos relatam que uma newsletter consistente e bem administrada é a chave para o sucesso. No entanto, 40% dos entrevistados em nosso estudo disseram que não possuem um banco de dados de usuários, e a maioria tinha menos de 5.000 contatos registrados. Pior ainda, quando perguntados pela quantidade de pessoas a quem estavam enviando as newsletters, a taxa de resposta caiu drasticamente.

Os boletins de notícias por e-mail são uma ferramenta poderosa para a mídia e servem para aprofundar o relacionamento com suas comunidades porque eles oferecem às organizações um ponto de entrada que chega ao cotidiano dos usuários. Os boletins de notícias também são ótimos geradores de tráfego, o que gera oportunidades para a publicidade. Embora esse tipo de ponto de contato com os leitores atuais e futuros tenha um desenvolvimento lento, as newsletters oferecem canais de marketing valiosos, que também podem abrir e fortalecer outras fontes de receita, como eventos e cursos. Esse problema poderia ser solucionado de modo relativamente barato e fácil com treinamento graças a soluções de prateleira como o MailChimp.

Estudo de caso: Papo de homem vale a pena

No Brasil, o Papo de Homem é líder em publicidade nativa, cobra dos clientes para criar “canais de marca” com conteúdo multimídia em mídias sociais. O seu poderoso site participativo concentra-se em conversas sobre questões masculinas, atraindo 2 milhões de usuários mensais, além de 500 mil fãs no Facebook, 63 mil seguidores no YouTube, 52,000 no Twitter e 37,000 no Instagram.

Seu kit de mídia orgulha-se de ter em seus 10 anos de existência 800 escritores que contribuíram com 5.000 artigos. Eles também oferecem treinamento para pessoas que desejam escrever para o site. O sucesso do Papo de Homem sugere que criar uma comunidade em torno de nicho e conteúdo segmentados não só pode criar credibilidade e um público significativo, mas também pode ajudar a atrair anunciantes.

Estudo de caso: festa à fantasia se mostra um lúdico modo de arrecadação

Nómada da Guatemala ofereceu um exemplo encantador de como os eventos podem ser tanto uma fonte de receita quanto de diversão.

No outono de 2016, a startup de notícias guatemalteca organizou uma festa de Halloween e encorajou a sua audiência de millenials a participar fantasiados.

Para promover o evento, eles criaram um vídeo atrativo, disparado em estilo de guerrilha, com membros do elenco vestindo figurinos em uma paisagem industrial e até em um trem.

O evento não foi apenas uma maneira divertida de se envolver com a audiência, foi um excelente modo de trazer nova exposição a um dos seus principais patrocinadores: a Huawei Technologies, uma empresa multinacional de equipamentos e serviços de telecomunicações.

Veja o vídeo no YouTube.

Estudo de caso: agência de notícias de fact-checking

A Agência Lupa, do Brasil, pode ter inventado um novo tipo de serviço de notícias, uma agência de notícias de fact-checking.

A agência trabalhou para alguns dos maiores meios de comunicação do país, incluindo este fact-checking do governo do presidente Michel Temer feito com a Folha de S. Paulo.

Eles contavam com outros clientes como a rede de rádio CBN, GloboNews e a revista Época. Eles também colaboraram com a Univision nos debates presidenciais de Hillary Clinton e Donald Trump.

Comparando mercados de mídia por país

Embora as condições econômicas de cada um dos quatro países neste estudo variem significativamente, as tendências que encontramos, quando comparamos níveis de pessoal, tráfego e fontes de receita, foram notavelmente consistentes em todos os quatro.

Os quatro níveis de receita incluíam veículos dos quatro países. A importância da diversidade de receita foi consistente em todos os quatro, e identificamos meios de comunicação no México, Argentina e Brasil usando mídia programática.

Entre os achados específicos do país, o México se destaca nitidamente como líder quando se trata de ganhar dinheiro, com 53% das receitas totais relatadas. O México também foi o mercado onde encontramos um uso maior de mídia programática e publicidade nativa.

De acordo com o tamanho relativo de seus mercados, o Brasil e o México apresentaram os maiores níveis de investimento inicial. México e Argentina relataram a maior quantidade de tráfego proveniente de dispositivos móveis. A Colômbia tinha os mais antigos sites de mídia digital no estudo; 76% estavam publicando há mais de quatro anos.

 

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